Você já leu sobre o conceito 4.0 (quarta revolução industrial), revolução tecnológica que também vem transformando o campo nos últimos anos? O professor doutor Rodrigo Guarnetti escreveu um artigo sobre o tema. Guarnetti é coordenador do Curso de Engenharia de Produção da ITE Botucatu, doutor em Energia e mestre em Engenharia de Produção. Confira o texto.
Atualmente o Brasil é o país com maior potencial de produção agrícola no mundo, tem terra, clima e vocação para produzir alimentos, sendo capaz de suprir nossa demanda interna e ainda exportar perto de 100 bilhões de dólares anualmente. O desenvolvimento tecnológico no setor rural é tarefa fundamental para um país como o Brasil que quer desembarcar de vez na nova economia mundial, e isso já está acontecendo, em busca de aumento de produtividade, cada vez mais a agropecuária está se tornando mais digital.
Ainda temos algumas barreiras a serem superadas como as leis trabalhistas e as questões ambientais, mas a tendência é que esses temas sejam coisas do passado, afinal estamos na era da informação e digitalização , onde as decisões são tomadas baseadas em parâmetros normalmente coletadas em sensores que analisam os dados em tempo real proporcionando velocidade e confiabilidade nas tomadas de decisões, principalmente aquelas que envolvem impactos ambientais e eficiência dos processos.
Esta revolução tecnológica que vem transformando o campo nos últimos anos, tem relação direta com o conceito 4.0, o que os pesquisadores chamam de "a quarta revolução industrial". Nesse sistema, os elementos que compõem os processos de produção, como tratores e implementos agrícolas estão conectados à internet, recebendo e enviando dados em tempo real, e quando essas informações são utilizadas no sentido de melhorar a produtividade e baixar custos, os resultados são extremamente positivos.
Na prática, sensores no trator são capazes de ler e interpretar dados através da coloração das folhas das plantas, possibilitando aplicar o fertilizante com diferentes dosagens na área plantada. Isso de fato é um diferencial muito importante, pois os empregos dessas tecnologias resultam em custos menores de produção e aumento da produtividade.
Na área da logística será possível trabalhar com estoques menores pois os programas que operam sistemas de monitoramento em tempo real apresentarão informações como melhores trajetos, estatísticas, data exata e hora da entrega, isso com certeza influencia na melhoria dos índices econômicos das operações.
No caso dos produtores de leite, toda sala de ordenha é automatizada, os animais usam brincos de identificação capazes de fornecer informações por rádio frequência a uma central de dados, possibilitando alimenta-las individualmente com porções de ração previamente programadas. Além disso, é possível acompanhar em tempo real a qualidade do leite no que diz respeito a níveis de proteínas e gordura, por exemplo.
Outra novidade que merece destaque é o uso de drones em sistemas agropecuários, possibilitando ao produtor rural mapear áreas que serão plantadas futuramente, além de analisar a qualidade do plantio realizado e acompanhar o desenvolvimento da planta.
Nesse sentido, os drones caem como uma luva, pois é barato, elétrico e de fácil operação, exatamente o que o produtor rural precisa no Brasil, afinal, aqui temos áreas extensas que poderiam ser bem mais produtivas se fossem melhores aproveitadas.
Essa tecnologia de monitoramento aéreo quando associada a instalação de uma coleira com sensores nos animais permite obter dados de movimentação, temperatura corporal, velocidade do rumem, entre outros dados, que quando são combinados possibilitam ao pecuarista tomar decisões mais rápidas e precisas.
No sentido de disseminar o uso dessa tecnologia um grande passo foi dado regulamentando as operações dos drones recentemente no Brasil, estimulando a criação de novos projetos e investimentos de agricultores e empresas em drones mais sofisticados para realizar as operações.
Para que o Brasil se desenvolva nesse cenário tecnológico é preciso superar o que talvez seja a maior barreira tecnológica, que é a velocidade e a disponibilidade de internet nas áreas rurais, pois essa integração de sistemas só é possível com uma infraestrutura de rede de computadores adequadas.
Ainda é caro para o produtor rural optar por tecnologias descritas nesse artigo, no entanto, a ideia foi apresentar perspectivas para os próximos anos que sem dúvida estarão presentes na vida do produtor rural brasileiro, ainda mais quando se considera o desenvolvimento tecnológico que o país está atravessando, a tendência é que apareçam projetos pilotos espalhados por todo o país envolvendo empresas, startups e produtores rurais em parcerias focadas no desenvolvimento de novos produtos e melhoria de processos.
Quando de fato as tecnologias chamadas 4.0 ou tecnologias avançadas entrarem no campo, o Brasil apresentará ao mundo resultados expressivos no aumento da produtividade e proteção ao meio ambiente.
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